Estatueta de 12.000 anos revela crenças antigas sobre a interação humano-animal
Uma estatueta de argila notavelmente preservada, descoberta em Israel, fornece uma visão sem precedentes sobre as crenças e a expressão artística do povo natufiano que viveu há 12 mil anos. A pequena escultura retrata uma figura humana com um pássaro posicionado de uma forma que sugere um ato íntimo, levantando questões sobre as primeiras percepções humanas sobre sexualidade, espiritualidade e a relação entre humanos e animais.
A descoberta e seu significado
Arqueólogos desenterraram a estatueta em Nahal Ein Gev II, um sítio arqueológico perto do Mar da Galiléia. A peça, confeccionada a partir de um único bloco de barro e posteriormente fragmentada em três pedaços, mede pouco menos de quatro centímetros de altura. O que o torna excepcional é a clareza da representação: uma forma humana com um pássaro deitado de costas numa posição sugestiva. Esta não é apenas uma representação artística; é a representação mais antiga conhecida de uma figura humana no sudoeste da Ásia, anterior às sociedades agrícolas estabelecidas.
Os natufianos eram uma cultura sedentária de caçadores-coletores que ocuparam os atuais Israel, Palestina, Jordânia, Líbano e Síria entre 15.000 e 11.500 anos atrás. Os seus assentamentos, embora não sejam totalmente agrícolas, demonstram sinais precoces de habitação permanente. A descoberta desta estatueta sugere que a sua cultura era muito mais complexa do que se entendia anteriormente.
O que a estatueta retrata
A escultura mostra uma figura humana, provavelmente feminina, dada a área triangular incisa representando a região pubiana e impressões ovais simétricas próximas ao rosto, sugerindo seios. Nas costas do humano está um pássaro, identificado pelos ossos de animais encontrados no local como provavelmente um ganso. A posição do pássaro, com as asas abertas para trás, sugere um ato de acasalamento.
Embora algumas interpretações proponham que a estatueta represente um caçador transportando um pássaro morto, os pesquisadores favorecem uma explicação mitológica: a representação de um ganso acasalando com uma fêmea agachada. Tais imagens de uniões entre humanos e animais não são incomuns em mitos posteriores, e esta estatueta fornece o exemplo mais antigo conhecido.
Implicações para compreender as crenças iniciais
A estatueta desafia suposições sobre a paisagem espiritual e cultural do período pré-neolítico. Os natufianos, que viviam antes do advento da agricultura estabelecida, já estavam envolvidos em representações simbólicas complexas. O ato de criar esta escultura sugere um desejo emergente de retratar imagens femininas, potencialmente ligadas ao papel crescente das mulheres nas práticas espirituais.
Além disso, uma impressão digital parcial encontrada na estatueta pode indicar que ela foi esculpida por uma mulher. Com base em comparações de densidade de cristas com impressões digitais modernas, a impressão sugere autoria feminina, embora isto permaneça provisório.
O contexto mais amplo
A estatueta foi descoberta em uma área do local usada para sepultamento, ao lado de outros depósitos únicos, incluindo um sepultamento infantil e um esconderijo de dentes humanos. Isso sugere que o local tinha um significado ritual. A descoberta surge num momento em que a nossa compreensão das culturas pré-neolíticas está a evoluir rapidamente.
Os natufianos estavam à beira da revolução neolítica, da transição para a agricultura estabelecida e a domesticação. Esta estatueta sugere que, mesmo antes desta mudança, eles já criavam imagens complexas e expressavam potencialmente crenças animistas. É uma janela para um mundo onde as fronteiras entre humanos e animais eram mais fluidas e onde o reino espiritual estava ativamente representado na arte.
A estatueta não é apenas um artefato; é uma prova do fascínio humano duradouro pelo mundo natural e pelos mistérios da criação. Desafia-nos a reconsiderar as nossas suposições sobre as origens da crença e a evolução da consciência humana
























